Marrocos, entre a praia e a maior medina do mundo!

12-10-2018

Finalmente África! Um novo continente, uma estreia para mim!

O destino escolhido foi Saïdia, uma pequena estância balnear no norte de Marrocos, mesmo junto à fronteira com a Argélia.

Não posso dizer que esta viagem tenha sido planeada com grande antecedência, muito pelo contrário, mas que era um destino muito desejado lá isso era. Decidimos definitivamente que íamos a 2 dias da partida. Em boa hora!

O voo foi com a Air Horizont, foi tranquilo e rápido (cerca de uma hora), desde Beja até Oujda com direito a visita ao cockpit...

O facto de ter partido de Beja teve como positivo o poder ver em detalhe esta região de Portugal, o estreito de Gibraltar e por fim a costa africana. 

Saïdia não tem aeroporto sendo que por isso aterramos em Oujda, a maior localidade da zona, que vista do céu parece ter as casas todas iguais e da mesma cor. A primeira sensação que tive foi a de que estar tão próximo da Europa e tudo ser tão diferente...

Saïdia  é conhecida como a Pérola Azul de Marrocos e está situada na costa mediterrânea. Foi idealizada como destino de férias pelo Rei de Marrocos há alguns anos. Fica junto da fronteira com a Argélia e a cerca de 60 km do aeroporto da cidade de Oujda, onde nós aterramos.

Nesta foto da vista aérea da baia de Saïdia conseguimos ver no lado direito a localidade de Saïdia e a linha paralela é a fronteira com a Argélia. Na ponta do lado esquerdo o início da marina e no meio a zona dos hotéis, onde se encontram o Hotel Be Live e o Hotel Iberostar.

Vista exterior do aeroporto em Oujda.

Depois de recolher as malas e de preencher a papelada, iniciamos a viagem de cerca de 40 minutos para o hotel Iberostar, através de autocarro. Pelo caminho os detalhes mostravam-me que estava numa terra especial com regras e costumes completamente diferentes do que conhecia. Até as placas em árabe me fascinaram e não me deixaram esquecer onde estava. Mas o que me impressionou logo foi a quantidade de policias que vi ao longo da estrada.

Percebi mais tarde, que se devia ao facto de estarmos junto à fronteira com a Argélia e por outro lado, estarmos numa zona onde o Rei de Marrocos costuma passar férias...

O calor já aperta e qualquer sombra serve para passar pelas brasas...

Ao longo do trajeto vemos muitos vendedores de frutas com destaque para as melancias e os figos de palmeira.

Ao longo do caminho a estrada vai contornando a fronteira com a Argélia como podemos ver nesta foto. De um lado (à esquerda e a castanho) o posto de vigia marroquino, do outro (a branco) o posto argelino. Pelo meio a rede que separa estes dois países. Dizem que esta rede segue até ao deserto!


Iberostar Saïdia

Posso dizer que o Iberostar Saïdia foi uma agradável surpresa após ouvir tantos comentários negativos acerca deste hotel. Ao optar por este destino não podemos estar à espera de encontrar o tudo incluído das Caraíbas. Não o iremos encontrar! E é preciso ter a noção que estamos em África. Estar de espírito aberto e não dar importância a pormenores menos positivos é a receita para desfrutar tranquilamente de uma semana requintada e inesquecível.


A chegada foi feita ao som de música típica Marroquina e tínhamos a oferta de bolinhos e chá...

O quarto é confortável e limpo. O detalhe da cabeceira com azulejos com padrão típico é muito bem pensado. Embora já apresentando algum desgaste e a pedir alguma manutenção esta habitação serve na perfeição. Ficamos no bloco 1 no piso inferior.

As zonas comuns num país árabe.

Das três piscinas, as duas em frente ao lobby contaram sempre com imensa animação ao longo dos dias. Sempre com enorme simpatia por parte dos animadores e nadadores salva vidas. A única dificuldade é que a maior parte da rapaziada só fala o árabe... Nem francês, nem inglês, nem espanhol... Mas nada que me atrapalhe. Abraço para o Hamza, Azouzzi e Hicham!

A praia é de facto o ponto mais positivo deste hotel. Afinal se estivesse no interior de Marrocos, Saïdia provavelmente não seria a "Pérola Azul" nem teria o turismo que tem. 

Com as montanhas da Argélia como pano de fundo a praia é de areia fina e escura  mas a água é quente, rondando os 25ºC talvez 26ºC... 

Entre o hotel e a praia existe uma marginal que liga Saïdia até à Marina e um passadiço de acesso à praia.

O hotel também recebe turistas locais sendo que a maioria pertencem a pessoas com um nível médio de vida nitidamente mais elevado que a média do pais e emigrantes marroquinos. Todos respeitam os seus costumes islâmicos e é normal e frequente ver as senhoras vestidas com burkinis ao lado das turistas em fatos de banho e bikinis. Tudo muito natural e em excelente convivência.

Na praia do hotel os vendedores estão de manhã até à noite sempre junto aos turistas à espera que algum lhes faça sinal. Aqui vendem, camisolas de futebol, roupa de senhora, pulseiras, bóias, tabaco, candeeiros, papagaios de papel, tudo o que for preciso.... Alguns são berberes que descem do Reef nesta altura do ano para ganharem mais algum dinheiro. Quando os turistas vão embora eles também vão e  voltam para as suas aldeias na montanha para a apanha da azeitona, arte muito comum por estas zonas. 

Pinturas Hena, poucas são as turistas que resistem! Dica, há que negociar bem o preço e não custa nada oferecer uma garrafinha de água a quem anda a trabalhar ao sol o dia todo. É o chamado 2-em-1 fazemos uma boa acção e somos bem servidos!

Outra atividade que se pode fazer na praia é dar uma voltinha de dromedário (pois porque os camelos têm 2 bossas). São confortáveis, têm um boa posição de condução e são muitos silenciosos. Dica: agarrem-se bem no arranque e no final para saírem de cima do bicho!

Outra atividade que se pode fazer é caminhar pela beira mar até Saïdia. É seguro e muito agradável. Ao seguir para a direita passa-se pelo hotel Be Live, por um posto militar de vigia e quando damos por nós já estamos em Saïdia com os locais que parece que se mudam para a praia de malas e mobilias...

A população de Saïdia já está habituada aos turistas e por isso não há problema em que as turistas se passeiem de bikini. A excepção são alguns marroquinos mais velhos e radicais que por vezes não aceitam tão bem a nossa presença e por isso sentimos que praguejam à nossa passagem.

A comida no hotel, embora sendo muito à base de comida tradicional marroquina, como cabrito, borrego, frango, peru e peixe, tem ainda paelhas e não prima muito pela diversidade. Mas é mais do que suficiente para passar uma semana.

Num dia até sardinha assada havia...

O hotel tinha muitos portugueses e marroquinos e à hora de almoço, por vezes existia "hora de ponta" nos restaurante...

Fruta e legumes muito saborosos fornecidos certamente por produtores locais.

À noite o ambiente e as cores das mil e uma noites são recreados através de um jogo de luzes muito interessante. Na última noite houve até uma festa temática junto à piscina. A Noite Branca.


Marina


Saindo do hotel e caminhando para o lado direito acabamos na marina. Aqui podem-se realizar algumas compras de artesanato local ou tomar uma refeição.


Saïdia

Saïdia foi fundada pelos árabes no século XVI (por volta de 1548), mas foi o Sultão Hassan I no século XIX que a dinamizou com a construção da fortaleza em 1881. Em 1934 ainda era uma colónia francesa, mas depois da independência de Marrocos, sofreu um impulso e tornou-se um destino turístico.


Visitei várias vezes Saïdia quase sempre de autocarro (40 centimos ou 4 dirhams), é seguro rápido e barato.

A localidade em si não tem grandes motivos de interesse, mas vale a pena andar pelas suas ruelas e sentir os cheiros e o ambiente descontraido que se vive por lá...

A Mesquita, lugar sagrado para os muçulmanos  é um dos pontos de interesse a visitar.

Aqui a sardinha também é muito apreciada. Junto ao mercados há zonas com restaurantes onde é possível ver os marroquinos a degustá-las.

Em Saïdia existem 2 mercados onde podemos encontrar de tudo. Vale a pena visitar cada um deles pois são bastante diferentes.

As Réplicas são Oficiais! Foi o que me garantiram! - LOL

As contrafações e o artesanato são vendidos lado a lado mas ninguém se importa. Camisolas do Cristiano Ronaldo, cintos, carteiras, sapatos e chinelos de todas as cores, candeeiros, e pulseiras ou especiarias que emanam cheiros e sensações que nos despertam os sentidos a cada passo que damos.

 Por aqui também podem ser encontrados produtos de medicina tradicional.

Aqui ainda podemos encontrar muitos produtos com bastante qualidade nomeadamente os produtos feitos de pele genuína.

Nas bancas por vezes são menores que estão a vender, mas cuidado, não se eludam, são experientes e por isso não se pode facilitar. São mestres a negociar. É "obrigatório" sempre regatear!

Junto ao mar nasce uma vedação (a tal que segue até ao deserto) que separa a Argélia de Marrocos. Estes dois países encontram-se de "costas voltadas" e por isso a fronteira está fechada. Confidenciaram-me que por vezes quando se zangam atiram pedras de um lado para o outro! - LOL

Na praia há uma"zona de ninguém" que separa os dois países. Daqui podemos ver no outro lado os argelinos na praia a aproveitarem o tempo e a água quente.

Por fim, depois das compras passear ao final do dia pela zona da marginal de Saïdia é um experiência bem agradável.


Fes- فـاس

Fes é considerada Património Mundial da Humanidade pela UNESCO e visitar a sua medina era um dos objetivos da nossa viagem. Visitar a mais autêntica medina árabe do mundo, é como se recuássemos centenas de anos no tempo. 

A cinco (!) horas de distância partimos ainda de madrugada de autocarro rumo a Fes. Quando o sol nasceu mostrou uma paisagem fantástica, onde os olivais a perder de vista são interrompidos por montanhas nuas sem vegetação tipo paisagem lunar.

Por vezes, aqui e ali, avistam-se pastores com os seus rebanhos e casas sem telhados, só com a "placa" onde se podem ver depósitos de água que são utilizados pelos seus habitantes. No trajeto  também é fácil de adivinhar que atravessamos uma zona do Marrocos "profundo" onde o rigor do relevo e do clima moldam a paisagem e os seus habitantes. 

Exterior da medina - parte nova

O palácio real de Fes é a residência oficial dos monarcas marroquinos quando visitam esta cidade. Foi construído em 1864, no local onde já existia um palácio mais antigo do séc. XIV. No seu interior tem uma mesquita e diversos edifícios ocupados por ministérios, uma madrassa, um pequeno hipódromo e um campo de golfe privado.

Todos os edifícios estão cobertos de telhas verdes um material reservado em Marrocos à realeza marroquina e a edifícios religiosos muçulmanos.

Junto ao Palácio fica o bairro judeu, também muito típico e motivo de interesse. As pedras e metais preciosos são nesta zona transacionados, sendo que existem por aqui inúmeras ourivesarias. Aqui comecei a notar que a maior parte dos locais não apreciam ser fotografados. Há que respeitar.

Medina de Fes

A vista do exterior é impressionante!

A Medina de Fes, é Património Mundial desde 1981, e dela faz parte a zona mais antiga e islâmica da cidade. Fundada em 789 d.C. por Mulaí Idrís, tem a mais antiga universidade do mundo entre outros edifícios de grande importância.

Fes é uma cidade de grande importância para Marrocos e apesar de já não ser a atual capital deste país, continua a ser um dos locais mais importantes a nível cultural e espiritual.

Fes é uma das quatro Cidades Imperiais, isto é, faz parte das cidades marroquinas que foram capitais das antigas dinastias do reino. Hoje Fes continua a ser um verdadeiro museu ao ar livre.


Interior da medina - parte velha


Se o exterior impressiona o interior ainda consegue ser mais interessante.

Esta é de facto uma viagem onde os sentidos despertam e a adrenalina dispara.  É impossível ficar insensível a tudo o que nos rodeia. São cheiros, cores, sons, numa agitação desordenada que nos transporta para outra época.

Mais do que as palavras ficam as fotos...

Nas  ruelas apertadas circulam os comerciantes, os clientes, os moradores, os turistas e as mercadorias. Por aqui não há carros e por isso são utilizados burros para deslocar o que for necessário, sendo que quando ouvimos "balak" há que sair da frente porque eles não se desviam...

Existem diferentes mercados conforme o tipo de produtos, são os chamados "souks".

Entre o ano 817 - 818, existiram duas vagas de povoamento em Fez: de Córdoba chegaram 800 famílias andaluzas, expulsas pelos Omeíadas e criaram o bairro dos Andaluzes. Depois da Tunísia, cerca de 2.000 famílias de Kairouan fugiram às perseguições dos Abássidas e criaram o bairro Quaraouiyine.


Uma das muitas mesquitas no interior da medina...


Tintureiras / Curtumes

É aqui que as peles são tratadas e adquirem as mágnificas cores que tanto apreciamos e que mais tarde são comercializadas em diversos locais tanto dentro como fora de Marrocos. Até as grandes marcas se abastecem por aqui...

Este local, é um dos mais conhecidos de Fez e parece uma colmeia de pedra. É aqui que se realiza o tratamento das peles. Depois de tratadas as peles são colocadas nestes tanques das cores e aqui ficam durante uns dias de molho.

O cheiro é muito intenso e por isso os visitantes são aconselhados a pegarem em pequenos ramos de hortelã para se colocar no nariz e aguentar a coisa.

No fim é perfeitamente possível verificar os produtos finais.


Souk Tecidos


Outra área de artesanato dominada pelos marroquinos é a tecelagem. É possível visitar souks repletos de tecidos com diversos padrões, formas e cores. São usadas sedas, algodão e muitos outros materiais...

Madraça

As madraças são escolas islâmicas que ensinam a religião muçulmana. Nestes locais existe sempre uma fonte na zona central onde antes de rezar os muçulmanos lavam algumas partes do corpo e uma parte da superestrutura virada para Meca indicando o local para o qual os crentes se devem virar para rezar .

A arquitetura destas construções impressiona e é algo que merece ser calmamente apreciado. Há detalhes muito interessantes como por exemplo o da madeira se aguentar durante séculos ao ar livre sem apresentar grande desgaste.


Universidade mais antiga do mundo!

O crescimento cultural e espiritual de Fes foi de tal forma grande que passou a ser considerada a "Atenas de África"!

É incrível como cresceu tanto e se desenvolveu neste local!

A fundação da mesquita universitária Al Quaraouiyine, no ano de 857 contribuiu para o desenvolvimento de Fes e está na origem  do facto de se mudarem para a cidade artistas, letrados e estudantes vindos do mundo inteiro.


No fim do dia o regresso a Saïdia


Após um dia excelente que passamos em Fez regressamos a Saïdia voltando a cruzar serras, rios e planícies que agora assumiam outras cores com o sol "da tarde" já a querer deixar o horizonte. 


Os rebanhos são uma constante na paisagem, e aqui o pastor também estava em modo de "dulce fare niente" - LOL

Um grupo de mulheres com os seus trajes tradicionais.

As pincipais localidade em Marrocos estão ligados por modernas autoestradas. Caso contrário seria muito complicado circular pois as distâncias entre elas são muito longas.


O Regresso a Portugal

No final até o tempo ajudou. Saímos rumo a Oujda com o céu a ameaçar chover como se tivesse sido de forma de não sentirmos tanto a hora da partida...

Aquilo ali atrás é uma botija de gás...

Em Marrocos vemos mesquitas em todo o lado. De Saidia a Fez é uma presença permanente na paisagem.

Entre Saidia e Oujda sempre com as montanhas por trás.

A caminho do aeroporto é frequente ver os vendedores de gasolina junto à beira da estrada.

Sem dúvida uma viagem especial.

Espero em breve voltar e conhecer mais de Marrocos.